maio 23, 2013

mal do século


Se no século dezenove o “mal do século” eram os ultras-românticos e as metáforas exageradas para manifestarem suas insatisfações com a realidade. Uma onda de pessimismo doentio que se traduzia no apego de certos valores decadentes, como o vício e o medo de amar. 
Mas, eu não estou aqui para falar desses loucos seguidores de Lorde Byron. Vamos falar do mal deste século: ansiedade e a falta de paciência pras coisas mais banais.
Já reparou que tem sempre alguém tentando atravessar a rua correndo? Fora ou na faixa. A pessoa dá uma corridinha e nem olha pro sinal. E, quando ele fecha segundos depois, penso: “idiota!”. A pessoa da uma corridinha e economiza segundos da vida. Os últimos segundos da vida dela, talvez, quem sabe.
Na fila do banco: a pessoa atrás de você cisma em parar milímetros de distância, como se cada metro percorrido fosse uma vitória. Eu teimo e sempre dou um espaço bem maior entre a pessoa da frente e eu.
Nas barcas: a embarcação diminui a velocidade e já começam a levantar. Acho que essas pessoas não sabem que dá tempo de todo mundo sair antes da barca fazer o caminho inverso. E que tem voltar? Dê umas gargalhadas de si mesmo. 
Sem contar o clássico caso da buzina acionadora de asas, né?
E o trocador do ônibus que começou a girar a roleta e meu corpo nem estava “dentro”? Como sou muito lerda antes de almoçar, não emiti nenhum som, mas bem que podia ter machucado meu quadril.
O que eu digo é, desacelerem! Olhem para o céu de vez em quando. O relógio é uma invenção humana: domine-o.
Olhei para o céu hoje e vi um grupo de urubus (ou não eram urubus?) sobrevoando uma parte da Praça XV. Olhei e vi um avião e em segundos imaginei a vida de cada um ali. E a minha vida indo embora ali.
Já tentou cozinhar um macarrão? Parece fácil, mas não é. Se o tira antes do tempo certo da água fervente, ele fica duro, não cozinha, horrível. É preciso paciência. Eu já cozinhei macarrão que ficou maravilhoso e outros que comi porque estava com fome. Assim é a vida. Nas coisas banais é que ela se faz.   
Tenho a impressão que outras pessoas já pensaram sobre isso. 

3 comentários:

Paloma Viricio disse...

Opa...muito bom! Realmente as pessoas não em paciência para nada hoje em dia. Essa de atravessar a rua eu tenho maior precaução do mundo...não será por perder uns minutinhos que vou morrer atropelada, espero o tempo que for. Realmente tem cobrador e motorista muito sem educação.
Beijos!
Paloma Viricio- Jornalismo na Alma.

Helena disse...

Cecília, excelente seu texto, tanto a forma que foi escrito e o tema abordado.
É verdade, não temos paciência para nada. Eu sou assim também, consequência da minha ansiedade (tudo o que você citou). Porém não é desculpa para sermos egoístas ou transgredirmos a lei.
Esses dias conversando com um professor cheguei a conclusão que a paciência pode ser boa se for aproveitada o caminho percorrido. De resto ela só me irrita hahaha
Super anotado em meu diário seu texto.
Adoro seu blog. E é impressão minha ou você mudou por aqui?
E dessa vez não saio sem deixar meu email hahaha
hassdc@hotmail.com
Beijos, obrigada pela atenção.

Helena - https://hassdc.wordpress.com

Nathália Carvalho disse...

Compartilho da mesma reflexão todos os dias, e foi em grande parte por isso que tomei trauma do metrô. Pode-se dizer que lá a ansiedade se faz presente em corpo, alma e espirito? rs
Compartilho também, do mesmo pensamento quando o sinal fecha logo depois. Tipo "ihaaaaaa babacão" hahahahha